sexta-feira, 22 de novembro de 2013

texto dissertativo-argumentativo

Criatividade é inventar. Fazer existir coisa que não existia. Nós inventamos músicas, roupas, armas,
comidas, técnicas, jogos, brinquedos, livros. Essas coisas não existiam. Os animais, ao contrário,
desejam que nunca haja mudanças. As mudanças, imperceptíveis, acontecem à revelia do que eles
possam pensar. Animal não pensa, não precisa pensar. O pensamento é a busca do que não existe; a
gestação do que não existe, o não existente, de forma virtual, antes de existir de forma real. [...] Agora
o absurdo, o contraponto, o tema invertido: os homens precisam pensar e criar porque eles são
imperfeitos. Pensamento e criatividade nascem da imperfeição. Como os animais, os homens são
também melodias. Melodias interrompidas, melodias inacabadas, como A arte da fuga, de Bach – ele
morreu, antes de terminar – ou a sinfonia inacabada de Schubert. Deus (ou a evolução) compôs só um
pouquinho, muito pouco – escolheu os instrumentos da orquestra, tocou a introdução e, com um sorriso
matreiro na boca, disse para a melodia assim iniciada: ‘Termine-se! Se você não terminar, você vai
desaparecer!’ E essa é a história da humanidade: os homens, as culturas, tentando continuar a
composição inacabada.
ALVES, Rubem. Lições do velho professor Rubem Alves. Campinas, São Paulo:Papirus, 2013. p. 162-163.

re·ve·li·a 
substantivo feminino
1. [Direito Recusa ou não comparência em juízo.
2. Acto de revel.

à revelia• Sem comparência da parte revel.
• [Figurado]  Ao deus-dará.

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