É difícil a vida na terceira idade, sobretudo nestes tempos. Não só vão
perdendo amigos e conhecidos como também as relações com as novas gerações complicam-se.
Minha avó sempre teve suas atividades
na casa. Quando éramos crianças ela cozinhava, trabalhava no quintal e até
fazia arranjos na casa que nem pedreiro. Sempre gostou de manter-se informada,
assistia à TV, conversava com suas conterrâneas. Tinha baixa visão por isso que
ficava bem pertinho da TV, escutando tudo e olhando o que ela puder. Mas seu
mais fiel companheiro era seu radio Spica. Ela possuía o radio desde que morava
na Rua Spikerman - acho que não era em honor ao fabricante do radio-, foi um
presente de seu filho maior.
Os anos são implacáveis e vão diminuindo
as possibilidades dos velhos. Ela já não podia fazer tarefas manuais e depois
já nem olhar a TV. Nos últimos anos o radio voltou-se indispensável para ela.
Eu gostava de sua companhia e
tentava compartilhar tempo com ela. Eu adorava escutar suas estórias de quando
era criança na Europa, mas ela não sempre tinha vontade de trazer lembranças duma
terra e tempos tão distantes. Portanto as conversas iam mais relacionadas com a
atualidade, da crônica policial ao futebol, tudo interessava a ela.
Seu radio Spica tinha se estragado
havia tempo, pelo que tinha um radio mais moderno. Com tudo o velho radinho
ficava em seu quarto, junto com os adornos, fotos e lembranças que ela
atesourava.
Depois que ela morreu eu fiquei como
seu radinho. Cada vez que a vejo lembro-me da minha vovó. Algum dia terei que
conserta-la e escutar as noticias nela para honrar sua memoria. Espero que seja
antes que as emissoras deixem de transmitir pelo éter.
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